sábado, 4 de abril de 2009

Crônica

Crônica

Sabe quando você só respira?
Sabe quando vês que o mundo gira?
Sabe quando você mal respira?
És capaz de ver que ele conspira?

Não?

Tens olhos úmidos e fechados,
Vida, mente e desejos castrados.
Tens litros de poesia calados.
E por que então não estão falados?

Não!

Porque não tenho tempo
de expressar mais que rimas pobres...


quarta-feira, 1 de abril de 2009

É tempo...

...quem diz o tempo não é o relógio, mas o metabolismo.
O metabolismo das coisas mortas. O mesmo que transforma
o humus em vida e depois em humus novamente. Vocês estão
dispostos num grande círculo e têm de fazer o possível
para suportarem, por último, dos ponteiros que os tentam
derrubar a cada hora. Mais ou menos perigoso é o ponteiro
que lhes tenta cerrar o ventre, pois este ataca a cada minuto.
O mais temido é o que lhes mira na cabeça. Esse avança em
vermelho a cada segundo. E sobrevivendo nessa redoma
jurássica, o tempo (fruto também de movimentos rotacionais)
lhes impõe a já concluída tarefa de segurar esses ponteiros,
impedir seu avanço nessa roda. Mas reles humus não poderiam
algo ousado assim sem se tornarem deuses. E, por conseguinte,
são arrastados como se segurassem ondas e nada mais fazem a
não ser completar mais uma vez o movimento circular do metabolismo,
e voltar novamente ao início de tudo, só para poder girar de novo.
Eu não me incluo em seu grupo, por isso o uso da 3ª pessoa. Eu não
tento mais segurar a onda desse relógio. Eu me sento nela como um
deus que não sou, e sigo sem impedimentos ou desventuras o mover-se
desses ponteiros e aceito que tudo gira, que tudo vem somente pra
termos o desgosto de perder para termos a esperança de voltar a ter.
Não há cornetas anunciando novos tempos, há apenas tempos novos
a cada tempo envelhecido. Há apenas o metabolismo dos mundos, que
somente obedecem ao grande círculo. Tudo gira. Nos ponteiros deste
relógio de bolso que é vida, minhas barbas velhas e longas já se enroscam
e eis que me sufoco comigo mesmo. Até aí, se fecha um círculo...