sábado, 15 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Se ainda depois disso tudo você ainda está me lendo, só tenho uma última escolha: Vá para o inferno e feche a página!
sábado, 4 de abril de 2009
Crônica
Sabe quando você só respira?
Sabe quando vês que o mundo gira?
Sabe quando você mal respira?
És capaz de ver que ele conspira?
Não?
Tens olhos úmidos e fechados,
Vida, mente e desejos castrados.
Tens litros de poesia calados.
E por que então não estão falados?
Não!
Porque não tenho tempo
de expressar mais que rimas pobres...
quarta-feira, 1 de abril de 2009
É tempo...
O metabolismo das coisas mortas. O mesmo que transforma
o humus em vida e depois em humus novamente. Vocês estão
dispostos num grande círculo e têm de fazer o possível
para suportarem, por último, dos ponteiros que os tentam
derrubar a cada hora. Mais ou menos perigoso é o ponteiro
que lhes tenta cerrar o ventre, pois este ataca a cada minuto.
O mais temido é o que lhes mira na cabeça. Esse avança em
vermelho a cada segundo. E sobrevivendo nessa redoma
jurássica, o tempo (fruto também de movimentos rotacionais)
lhes impõe a já concluída tarefa de segurar esses ponteiros,
impedir seu avanço nessa roda. Mas reles humus não poderiam
algo ousado assim sem se tornarem deuses. E, por conseguinte,
são arrastados como se segurassem ondas e nada mais fazem a
não ser completar mais uma vez o movimento circular do metabolismo,
e voltar novamente ao início de tudo, só para poder girar de novo.
Eu não me incluo em seu grupo, por isso o uso da 3ª pessoa. Eu não
tento mais segurar a onda desse relógio. Eu me sento nela como um
deus que não sou, e sigo sem impedimentos ou desventuras o mover-se
desses ponteiros e aceito que tudo gira, que tudo vem somente pra
termos o desgosto de perder para termos a esperança de voltar a ter.
Não há cornetas anunciando novos tempos, há apenas tempos novos
a cada tempo envelhecido. Há apenas o metabolismo dos mundos, que
somente obedecem ao grande círculo. Tudo gira. Nos ponteiros deste
relógio de bolso que é vida, minhas barbas velhas e longas já se enroscam
e eis que me sufoco comigo mesmo. Até aí, se fecha um círculo...
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Vaidade
Escarra nessa boca que te beija!"
Seu canto falso destila a peçonha
Tão logo as tolas pessoas constatam-no!
Deitada numa ensangüentada fronha
Suas línguas em flecha espalham tétano
De um inferno ao qual irá e nem sonha!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Clichê
Era uma vez, numa madrugada de domingo...
Pedro disse à Maria tão logo sua distância permitisse diálogo:
– Eu posso explicar, não é isso que você está pensando...
Maria olhou aquele cenário e, perplexa, respondeu:
– O que aconteceu com nosso apartamento!? Por que os bombeiros e a polícia estão aqui!? Pedro, o que está acontecendo?
– Calma, amor, nada de pânico... Primeiro, não fui eu que comecei.
– Começou o quê? – Indagou Maria a seu noivo.
– O incêndio.
– Incêndio!? Como assim!?
– Vou contar como tudo começou, mas deixa eu terminar tudo, depois você fala, certo?
Com a afirmação nervosa da cabeça de Maria, Pedro começou seu relato:
– Eu estava em nossa futura cama, vendo um filme. Mas me irritei com o filme e fui ler um livro, você sabe, os livros são sempre melhores que os filmes... O livro contava uma história muito triste, que me fez lembrar da minha família. Eu comecei a chorar muito. Você lembra amor? Eu tinha sofrido um acidente e não lembrava de ninguém. Tudo bem que eu só podia pensar no meu irmão, por ser o único parente vivo que eu tenho, mas ainda assim é família...
Você lembra?
Maria respondeu que sim duas vezes sem entusiasmo, num tom de “continue, continue”; não esquecendo que o irmão mais novo dele estava morando com eles por serem os únicos sobreviventes da família de Pedro.
– Certo – continuou o noivo – Então eu fui até o quarto do meu irmão, desvirei o chinelo dele (acredita que ele deixou de novo o chinelo virado!?) e o cobri (ele estava parecendo um anjinho) e depois fui secar minhas lágrimas no banheiro. Eu estava tremendo tanto que deixei o pote de lenço de papel cair da pia. Agachei-me para pegá-lo e quando levantei... Vi uma sombra passando atrás de mim pelo espelho!
A isso Maria reagiu com um espanto mesclado com suspeita. Mas logo viu que o noivo não teria motivo pra mentir, afinal seu apartamento (que ainda não tinha sido totalmente pago) estava
– Com um pouco de medo eu fui até o quarto do meu irmão, eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a ele! Peguei o meu celular e tentei ligar pra polícia, mas... Ele estava sem sinal. Me vi obrigado a acordar meu irmão! Precisávamos sair dali! Acordei-o e decidimos nos dividir para procurar uma saída; provavelmente o bandido teria trancado as saídas! Na verdade ele relutou um pouco. Normal o irmão mais novo não querer se separar do mais velho, mas ainda assim decidimos nos separar, mesmo sabendo que a união faz a força.
Houve uma pausa pra respirar. E em seguida o resto:
– Eu fui pela cozinha e descobri que lá meu celular tinha sinal. Eu liguei e chamei a polícia. Pude dizer o número do prédio, mas o do apartamento não foi possível. O bandido havia tomado meu celular.
Espantei-me com sua aparição repentina, mas não me deixei abalar! Vi que ele era chinês...
Interrompendo o fluxo da narrativa, Maria perguntou com rapidez, tropeçando nas palavras:
– Um chinês? Como ele era?
– Como ele era!? Ora, chinês é tudo igual, como vou saber? – respondeu Pedro impaciente. Não esperando outra pergunta de Maria, ele continuou:
– Enfim, daí eu olhei para o chinês e vi que teria que enfrentá-lo. Começamos a brigar e foi um quebra-quebra pra tudo quanto era lado. Eu comecei vencendo, mas depois que eu o derrubei, lembrei que é dando que se recebe, e que não devemos fazer aos outros o que não queremos pra nós mesmos. Por isso parei de bater e fui procurar a saída. De repente, vejo meu irmão (como todos os irmãos mais novos: uma peste) saindo pela janela e me deixando pra trás! Coitado, ele caiu em cima de um feirante e desmaiou com uma melancia no pescoço. Tiraram muita foto dele... ele deve aparecer na capa do jornal amanhã. Ah, sim! Daí, como eu me distraí com meu irmão (e com o barulho da barraca) o chinês voou para cima de mim e me bateu muito, muito mesmo. Numa dessas, ele me arremessou contra o fogão e meu peso arrebentou a mangueira do gás! Por um instante eu achei que ia ser vencido, mas minha força de vontade superou minha fraqueza e inexperiência diante das artes marciais do chinês, e consegui vencê-lo com um golpe só! E eu estava certo nas minhas suspeitas! O chinês era o mordomo! Eu devia saber, sempre é o mordomo o culpado!
Maria parecia cansada só de ouvi-lo falar.
– Então eu corri até o extintor para apagar a lareira e impedir a explosão. Mas o nosso cachorro comeu o papel com o código que abre a porta do extintor, um pouco depois de você ter saído para fazer compras. Então eu tive uma idéia e me protegi da explosão!
Antes que Maria perguntasse como ele fez isso, Pedro continuou vigoroso:
– A polícia chegou então. Houve a explosão e o prédio ruiu. Os policiais e os bombeiros acharam que eu tinha morrido... Mas!
(Maria deixou escapar um abafado “mas” como um eco, mostrando todo o interesse na história).
– Mas eis que eu me levantei com a camisa rasgada, a pele suja de cinzas, e o bebê no colo!
Maria deu um pequeno solavanco e indagou:
– Espera um pouco... que bebê?
Pedro pareceu um tanto espantado, e isso irritou mais ainda Maria.
– ... É o bebê da vizinha! – Disse Pedro.
– Bebê da vizinha!? Você espera que eu caia nessa!?
– Não amor, espera, eu posso explicar. Não é isso que você está pensando...
– Como você pôde me trocar por aquela lá? O que ela tem que eu não tenho? E não é o que eu estou pensando Pedro – rugiu Maria – é o que estou ouvindo você falar! E quem fala o que quer, ouve o que não quer: Não quero mais saber de você! Está tudo terminado!
Pedro desesperado tentou a última alternativa:
– Amor, não foi isso que quis dizer... e o problema não é você, sou eu... mas enfim... eu sei que é clichê, mas... eu te amo.